«O carácter resulta de seguirmos o nosso mais elevado sentido do bem e de confiar em ideias sem ter a certeza que resultam.» Richard Bach

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Soberbo. Sem mais, soberbo apenas. Saramago é isto, soberbo com ésse grande – Soberbo. Apesar que afinal os seus romances sempre desiludem. A desilusão é que acabam, terminam, e assim obrigam-me a este protesto Que os romances de Saramago não terminem, acrescento ainda Que este ensaio sobre a lucidez continue, como tão bem continuou o ensaio sobre a cegueira. Agora, já que a isso a curiosidade se me aguçou, não a do gato, a do leitor apenas, folheei e vi que a palavra fim não está lá. Assim espero, expectante, convicto que essa gralha é propositada.
Vocês não me vêm mas eu estou a sorrir. Imaginem.

Antes de prosseguirmos este relato, convirá explicar que o emprego da palavra brancoso poucas linhas atrás não foi ocasional ou fortuito nem resultou de um erro de digitação no teclado do computador, e muito menos se tratou de um neologismo que o narrador teria ido a correr inventar para suprir uma falta. O termo existe, existe mesmo, pode ser encontrado em qualquer dicionário, o problema, se problema é, reside no facto de as pessoas estarem convencidas de que conhecem o significado da palavra branco e dos seus derivados, e portanto não perdem tempo a certificar-se à fonte, ou então padecem da síndroma de intelecto preguiçoso e por aí se ficam, não vão mais além, à bela descoberta. Não se sabe quem terá sido na cidade o curioso investigador ou casual achador, o certo é que a palavra se espalhou rapidamente e logo com o sentido pejorativo que a simples leitura já parece provocar. Embora não nos tivéssemos referido anteriormente ao facto, deplorável em todos os seus aspectos, os próprios meios de comunicação social, em particular a televisão estatal, já estão a empregar a palavra como se tratasse de uma obscenidade das piores. in Ensaio sobre a Lucidez, de José Saramago.

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