«O carácter resulta de seguirmos o nosso mais elevado sentido do bem e de confiar em ideias sem ter a certeza que resultam.» Richard Bach

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Soberbo. Sem mais, soberbo apenas. Saramago é isto, soberbo com ésse grande – Soberbo. Apesar que afinal os seus romances sempre desiludem. A desilusão é que acabam, terminam, e assim obrigam-me a este protesto Que os romances de Saramago não terminem, acrescento ainda Que este ensaio sobre a lucidez continue, como tão bem continuou o ensaio sobre a cegueira. Agora, já que a isso a curiosidade se me aguçou, não a do gato, a do leitor apenas, folheei e vi que a palavra fim não está lá. Assim espero, expectante, convicto que essa gralha é propositada.
Vocês não me vêm mas eu estou a sorrir. Imaginem.

Antes de prosseguirmos este relato, convirá explicar que o emprego da palavra brancoso poucas linhas atrás não foi ocasional ou fortuito nem resultou de um erro de digitação no teclado do computador, e muito menos se tratou de um neologismo que o narrador teria ido a correr inventar para suprir uma falta. O termo existe, existe mesmo, pode ser encontrado em qualquer dicionário, o problema, se problema é, reside no facto de as pessoas estarem convencidas de que conhecem o significado da palavra branco e dos seus derivados, e portanto não perdem tempo a certificar-se à fonte, ou então padecem da síndroma de intelecto preguiçoso e por aí se ficam, não vão mais além, à bela descoberta. Não se sabe quem terá sido na cidade o curioso investigador ou casual achador, o certo é que a palavra se espalhou rapidamente e logo com o sentido pejorativo que a simples leitura já parece provocar. Embora não nos tivéssemos referido anteriormente ao facto, deplorável em todos os seus aspectos, os próprios meios de comunicação social, em particular a televisão estatal, já estão a empregar a palavra como se tratasse de uma obscenidade das piores. in Ensaio sobre a Lucidez, de José Saramago.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Voltei. Já foi a uns 25 dias, mas só agora se tornou oportuno, ou melhor, só agora tive a oportunidade de aqui voltar. O meu blog já me dava saudades, mas primeiro a família, os amigos, o estudo - e os exames da faculdade - e agora sim as paixões. Paixões, livros sobretudo - outros há, segredos -, e por estes ficamos.
Timor já lá vai. Há momentos que recordo, outros nem por isso, só a muito esforço, outros há a esquecer, outros talvez nunca. Já passou, viro a página, agora aqui. Agora os livros.
Comecei a leitura por algo que nunca desilude, Jamais, no francês, é Nobel, merecidíssimo, é luso, ou por cá nasceu, agora será mais do mundo, e que o mundo nunca o perca e esqueça. O nome nem digo, claro, mas deixo aqui um parágrafo, dele, em que tropecei e não esqueço:
O inconveniente destas digressões narrativas, ocupados como estivemos com intrometidos excursos, é acabar por descobrir, porém demasiado tarde, que, mal nos tínhamos precatado, os acontecimentos não esperam por nós, que já vão adiante, e que, em lugar de havermos anunciado, como é elementar obrigação de qualquer contador de histórias que saiba do seu ofício, o que irá suceder, não nos resta agora outro remédio que confessar, contritos, que já sucedeu. in Ensaio Sobre A Lucidez, de Saramago.