«O carácter resulta de seguirmos o nosso mais elevado sentido do bem e de confiar em ideias sem ter a certeza que resultam.» Richard Bach

segunda-feira, 23 de julho de 2007

O amor prospera na espera. A espera vai caminhando pelos espaçosos campos do Tempo no sentido da Ocasião.

Quanto a mim, creio que sou um homem probo: sou fiel aos meus amigos, não minto senão quando faço uma declaração de amor, amo o saber e, pelo que dizem, faço bons versos. Por isso as damas consideram-me galante. Queria escrever romances, que estão muito na moda, mas penso em muitos deles e não me atrevo a escrever nenhum…”
- Em que romances pensais?- Às vezes olho a lua, e imagino que aquelas manchas são cavernas, cidades e ilhas, os lugares que brilham são aqueles onde o mar recebe a luz do Sol como o vidro de um espelho. Queria contar a história do seu rei, das suas guerras e das suas revoluções, ou as infelicidades dos amantes de lá que no decorrer das suas noites suspiram olhando a nossa terra. Gostaria de contar da guerra e amizade entre as várias partes do corpo, os braços que dão batalha aos pés, e as veias que fazem amor com as artérias, ou os ossos com o miolo. Perseguem-me todos os romances que eu desejaria escrever. Quando estou no meu quarto parece-me que estão todos a minha volta, como diabinhos, e que um pe puxa por uma orelha, outro pelo nariz, e que cada um deles me diz: «Senhor, fazei-me, sou belíssimo.»
in A ilha do dia antes de Umberto Eco

sábado, 21 de julho de 2007

Eu não existo para impressionar o mundo. Existo para viver a minha vida de uma forma que me faça feliz.


Nada é Complicado se nos Prepararmos Previamente.

Se, antes de começarmos a falar, determinarmos e escolhermos, previamente, as palavras, a nossa conversa não será vacilante nem ambígua. Se em todos os nossos negócios e empresas determinarmos e planearmos, previamente, as etapas da nossa actuação, obteremos o êxito. Se determinarmos com bastante antecedência a nossa norma de conduta na vida, em nenhum momento seremos assaltados pela inquietação. Se sabemos, previamente, quais são os nossos deveres, será fácil darmos-lhes cumprimento. Confúcio
Considero a televisão uma coisa muito educativa, porque cada vez que alguém a liga na sala vou para o meu quarto ler um livro...


Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam! Não duro nem para metade da livraria! Deve haver certamente outras maneiras de uma pessoa se salvar, senão... estou perdido. in A Invenção do Dia Claro de Almada Negreiros

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Adoro as metamorfoses – suspirou, fazendo o vinho rodar no seu copo. – A madeira que se transforma em livro. O Inverno que se transforma em Primavera. A uva que se transforma em vinho.
Voltou-se para Paolo.
- E a criança que se transforma em homem.



- És assim tão velho?
- Já não me restam muitos livros por ler. – Respondia. in
As Lágrimas do Assassino de Anne-Laure Bondoux

sábado, 7 de julho de 2007

Ainda me lembro daquele amanhecer em que o meu pai me levou pela primeira vez a visitar o cemitério dos Livros Esquecidos. Desfiavam-se os primeiros dias do Verão de 1945 e caminhávamos pelas ruas de uma Barcelona apanhada sob céus de cinza e um sol de vapor que se derramava sobre a Rambla de Santa Mónica numa grinalda de cobre líquido. - Não podes contar a ninguém aquilo que vais ver hoje, Daniel - advertiu o meu pai. - Nem ao teu amigo Tomás. A ninguém.

- Este lugar é um mistério, Daniel, um santuário. Cada livro, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se forte. Há já muitos anos, quando o meu pai me trouxe pela primeira vez aqui, este lugar já era velho. Talvez tão velho como a própria cidade. Ninguém sabe de ciência certa desde quando existe, ou quem o criou. Dir-te-ei o que o meu pai me disse a mim. Quando uma biblioteca desaparece, quando uma livraria fecha as suas portas, quando um livro se perde no esquecimento, os que conhecemos este lugar, os guardiães, asseguramo-nos de que chegue aqui. Neste lugar, os livros de que já ninguém lembra, os livros que se perderão no tempo, vivem para sempre, esperando chegar um dia ás mãos de um novo leitor, de um novo espírito. Na loja nós vendemo-los e compramo-los, mas na realidade os livros não têm dono. Cada livro que aqui vês foi o melhor amigo de alguém. Agora só nos têm a nós, Daniel. Achas que vais poder guardar este segredo?
in A Sombra do Vento de Carloz Ruiz Zafón

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Mas isto, confessemo-lo sem vergonha, é uma terra de ladrões, olho vê, mão pilha, e sendo a fé tanta, ainda que sempre recompensada, maior é o descanso e a impiedade com que se salteiam igrejas. in Memorial do Convento, de José Saramago.
Nós, homens, somos frágeis, mas, em verdade, temos de ajudar a nossa própria morte. É talvez uma questão de honra nossa: não ficarmos assim inermes, entregues, darmos de nós qualquer coisa, ou então para que serviria estar no mundo? O cutelo da guilhotina corta, mas quem dá o pescoço? O condenado. As balas das espingardas perfuram, mas quem dá o peito? O fuzilado. A morte tem esta peculiar beleza de ser tão clara como uma demonstração matemática, tão simples como unir com uma linha dois pontos, desde que ela não exceda o cumprimento da régua. in Cadeira (Objecto Quase), de José Saramago.

domingo, 1 de julho de 2007

Este país.

Não há nada pior que um ajuntamento espontâneo de populares. Juntam-se muito neste país. É para ver quem morreu ou para espancar um desgraçado que matou os filhos e as galinhas. É para jogar à vermelhinha ou para comprar Lacostes da treta que, em vez de crocodilo, têm um sardão das Berlengas. À mínima desculpa os populares, que estão maçados e anseiam distracção, juntam-se. Deveria ser proibido, fora de feiras e romarias. Bem vistas as coisas, também deveriam ser proibidas as feiras e romarias, porque já está demonstrado que encorajam o contacto entre as pessoas.


Os portugueses são tão comedidos e cerimoniosos a falar, como violentos e insubordinados a escrever. Ao contrário dos outros povos latinos, os portugueses, quando a mostarda lhes sobe ao nariz não explodem in loco. Mordem o lábio, pegam num papel e numa caneta e deitam a raiva toda para a tinta. Se em Itália, por exemplo, os italianos gritam e gesticulam, dizendo coisas que não se podem ou conseguem escrever, em Portugal, os portugueses escrevem o indizível. Abandonam os rodeios e os formalismos que ritualizam a nossa vida quotidiana e, no silêncio ensimesmado da escrita, usam as linhas do papel como rastilhos curtos para bombas grandes. Só não se sentem à vontade numa coisa: a primeira linha.
in Os Meus Problemas, de Miguel Esteves Cardoso

Amizade

Se o critiquei cruamente nesta memória, foi porque era meu amigo, e eu queria que ele fosse maior e melhor. in Viriato - O colar dos deuses, de Fernando Barrejón